A importância das Associações para a independência do doente

João Arriscado Nunes apresentou projecto apoiado pela
Comissão Europeia

No início do século XX o
doente era encarado como um dependente médico. Essa concepção foi evoluindo ao
longo dos tempos devido à ampliação e redefinição das capacidades das
instituições e da própria profissão médica, assim como ao aparecimento da noção
de que o doente é um cidadão com direitos adquiridos.

Esta evolução que decorreu no último século deu o mote ao projecto Associações
Europeias de Doentes na Sociedade do Conhecimento, um estudo que conta com o
apoio da Comissão Europeia e que foi hoje apresentado por João Arriscado Nunes
no “Colóquio Doentes e Cidadãos”.

De acordo com o sociólogo, no início do
século havia uma “relação assimétrica entre o médico e o doente” com “uma
orientação predominantemente ligada à assistência e à protecção
”. Devido a
esta conotação de subordinação, o doente pode ser descrito nesta fase como
paciente, tendo em conta que este tipo de associação é caracterizado pela “redução
da autonomia do doente e pela sua dependência relativamente a terceiros”
.

Esta relação manteve-se enquanto não existiram métodos terapêuticos eficazes,
pelo que o paciente sentia-se subordinado à autoridade médica e à sua sabedoria
clínica, depositando toda a sua confiança naquele que lhe assistia e na
medicina, havendo ainda entre ambos uma grande distância social.

Avanços médicos tornam doente menos dependente

Esta ideia foi-se alterando ao longo do último século, com a introdução de
meios de intervenção, como vacinas, cirurgia, medicamentos, assim como com as
tecnologias mais recentes que tornam mais eficaz e específico o diagnóstico.

Segundo João Arriscado Nunes, estes avanços
acarretaram um conjunto de pressões que induziram a que as próprias
organizações que prestam cuidados de saúde se tornassem mais responsáveis. Se
por um lado “apareceram novos meios de terapia, visualização e diagnóstico”,
por outro “o grau de incerteza e risco de erro aumentou”.

O doente começa a ser assim reconhecido como alguém independente do médico, um
cliente, pelo que esta relação sofre mudanças, ainda que a assimetria entre
ambos se mantenha.

Com o avanço da tecnologia, surge “uma crise na definição da competência
médica”
que “tradicionalmente era auto-regulada”, mas que pode agora
ser posta em causa por pessoas de fora da área, como um advogado, por exemplo.

O próprio doente começa assim a ficar mais consciente dos seus problemas e
estabelece-se um novo tipo de relação: face a face. Acresce a isto o
reconhecimento da saúde como um direito fundamental, o que levou à criação de
Serviços Nacionais de Saúde, atribuídos a todos os cidadãos.

Biosocialidade e Associações

A “democratização” da saúde possibilitou o aparecimento da biosocialidade, que
permite compreender a transformação do doente enquanto cidadão. “A
identidade dos doentes passa da situação em que são vistos como sujeitos
menores para outra em que há a partilha de uma condição associada a determinada
doença”
, sugere o investigador.

Os doentes
organizam-se então em associações de cariz muito heterogéneo, sendo que algumas
envolvem-se em laboratórios de investigação ou em formas de acção directa,
entre outros tipos de iniciativas.

Hoje em dia são estas associações que estão a introduzir mudanças na assimetria
de relação entre paciente e médico, cabendo-lhes um conjunto de novas práticas
e funções que ajudam a encarar o doente como cidadão.

2010-06-04

Por Carla
Sofia Flores

Fonte: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=43150&op=all


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